22 de jun. de 2010

Como entender o Velho Testamento?

Há um pensamento arreigado nos crentes evangélicos, que leva a considerar qualquer livro canónico como absolutamente correcto, “sem sombra de erro”, e qualquer livro deuterocanónico ou apócrifo como absolutamente errado e perigoso, cuja leitura é desaconselhada. Alguns fundamentalistas vão ao extremo de considerar toda a Bíblia (só com os livros canónicos) como inerrante no aspecto espiritual, moral, histórico e até científico.


Não é essa a minha posição, pois considero que só Cristo é a Palavra de Deus. É Ele a principal revelação de Deus, embora Deus se possa ter também manifestado a outras pessoas, inclusive noutras culturas e noutras religiões e/ou civilizações. Não posso limitar o poder de Deus para se manifestar quando quiser, onde quiser e a quem quiser, utilizando inclusive os meios que a ortodoxia cristã considera inconvenientes, pois acredito no Deus que Cristo revelou, que é o Pai de toda a humanidade.

O Deus Pai em que acredito, não pode ser aprisionado na Bíblia, nem limitado por dogmas ou declarações de fé, nem pressionado por quaisquer condicionalismos teológicos, políticos, culturais, económicos ou outros, como acontece com o ser humano, pois só Ele é o supremo Pai de toda a humanidade.

Não sendo possível ter uma opinião sobre todo o Velho Testamento, devo dizer que nele encontro livros históricos que têm de ser ponderados, não na perspectiva literal e simplista da maioria dos evangélicos, mas na observação isenta, feita por historiadores. Estes têm condições objectivas de analisar esse relato milenar duma cultura em que não havia liberdade de pensamento nem de expressão ou de religião, que só chegou a Israel com a colonização romana.

O Velho Testamento aplicava a pena de morte em caso de blasfémia, mas não encontrei nenhuma definição de blasfémia. Assim, tudo quanto divergisse da ortodoxia religiosa veterotestamentária, principalmente as outras religiões com outros ensinos, era blasfémia punida com a pena de morte, situação que só terminou com a colonização romana, que levou a Israel a civilização, tal como hoje a entendemos, inclusive a liberdade de expressão e a liberdade de religião.


Não é possível ser um verdadeiro cristão sem raciocínio e espírito crítico


O Velho Testamento diz em Deuteronómio 6:5 - Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças. Exige-se cega obediência sem qualquer referência ao entendimento. Porém, no Novo Testamento, vemos em Marcos 12:28/31 – Um dos escribas que ouvira a discussão, reconhecendo que respondera muito bem, perguntou-lhe: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?” Jesus respondeu: “O primeiro mandamento é: Ouve ò Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor, e amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento, e com toda a tua força. O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não existe mandamento maior do que esses”.


Certamente que os judeus, assim como todos os povos, deveriam aceitar o Deus supremo e único, que se terá manifestado a Israel, mas não exclui a possibilidade de se ter também manifestado a outros povos, pois Ele é o Pai de toda a humanidade. Aliás, Cristo não homologou tudo quanto estava nas Escrituras dessa época pois muita coisa Ele corrigiu Mateus 5:21/45 e o cânon do Velho Testamento ainda não tinha sido organizado. Nessa época (antes do cânon veterotestamentário), quando se falava em Escrituras, estavam incluídos os deuterocanónicos além de outros livros que foram rejeitados tanto por judeus como por cristãos.


Entre os outros povos a que Deus se manifestou, estavam certamente os samaritanos que, fartos do racismo dos judeus, construíram outro Templo em Garisim (ou Gerisim), para cultuar o mesmíssimo Deus supremo e único, Templo que foi atacado e destruído pelos judeus, poucos anos antes de Jesus nascer. Qual terá sido o motivo? Julgo que não foi por nenhum motivo teológico, mas por motivos económicos, pois os crentes que frequentassem Garisim, era lá que entregavam as suas contribuições e não em Jerusalém.

O nosso pensamento é o maior bem que o Senhor nos concedeu e Deus não prescinde de todo o nosso entendimento, que deve ser apresentado ao nosso Criador, para que através do seu Espírito Santo, Ele o purifique e o amplifique, para estar ao Seu serviço, completamente livre de quaisquer fronteiras teológicas ou culturais, segundo o exemplo que o Mestre nos deixou.

Sem entendimento e espírito crítico NÃO pode haver verdadeiros cristãos, e o nosso mundo necessita urgentemente dos verdadeiros adoradores a que o Mestre se referiu em João 4:23/24 Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai em espírito e verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja. Deus é espírito, e os seus adoradores devem adorá-lo em espírito e verdade. Se não encontrarmos a Deus nas igrejas, (nem neste monte, nem em Jerusalém) o melhor será procurá-lo nos ambientes que o seu Filho costumava frequentar.

Embora Jesus tivesse entrado no Templo de Jerusalém e nas sinagogas, os seus principais ensinos foram apresentados nos campos e nas praias, nos montes e nos lugares públicos, pois Jesus não era o tipo de homem religioso, não era “homem de sinagoga”, mas era o homem do seu tempo, que nos nossos dias não hesitaria em utilizar os órgãos de informação e a internet. É isso que ele espera dos seus verdadeiros adoradores.

Angrey!

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